segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Crítica: 12 Anos de Escravidão


O mundo está passando por um momento muito triste e perigoso.
Afirmo com todas as letras que nunca pensei que presenciaria tantos formadores de opinião, jornalistas, artistas, esportistas, políticos e pessoas comuns, amigos, parentes, conhecidos; várias pessoas, que ainda se mostrem racistas. O preconceito racial contra negros é cruel, pois não atinge somente a pessoa que está sofrendo este ato (que por si só já é terrível!!!), mas atinge todo um grupo de pessoas que sofreram as mais terríveis humilhações, perseguições, maldades e crueldades vistas na história moderna.
O Brasil está passando por um momento muito tenso, onde jornalistas (em rede nacional) defendem a humilhação pública de "marginaizinhos" (mulatos) e onde comediantes fazem "piadas" com negros usando o termo "macaco", e está tudo certo, em nome da "Liberdade de Expressão".
"12 Anos de Escravidão" é um filme que deve ser visto pelo maior número de pessoas, e o mais cedo possível. É um filme que tem a real e rara oportunidade de abrir a mente de jovens e adolescentes em relação a um tema tão complexo e delicado.
Baseado em uma história real e dirigido pelo ótimo Steve McQueen (Shame, Brilhante) e produzido pelo astro Brad Pitt, "12 Anos de Escravidão" conta a história de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro liberto, casado e com filhos e que vive no estado de Nova Iorque onde trabalha como músico (um mestre no violino). Soloman então acaba sendo sequestrado em Washington (onde está fazendo uma apresentação) e vendido para um "comerciante" de escravos da Louisiana, um dos únicos estados Norte-Americanos que até então não tinha abolido a escravidão, o ano era 1841.

O filme conta parte do que foram os 12 anos de escravidão de Solomon, sua luta pra se manter vivo e ainda confiante em rever seus filhos e sua esposa, mesmo passando por humilhações, tristezas, sofrimentos e as mais cruéis maldades que se possa imaginar. Solomon sofreu e presenciou coisas que a maioria das pessoas nem imaginaria que poderia existir e ainda sim, se manteve integro e honesto com seus sentimentos.

Vivido com maestria pelo ótimo Chiwetel Ejiofor, Solomon Northup não é o "Django" de Quentin Tarantino em busca de vingança, mas sim um homem que teve a família e a liberdade roubadas por uma das faces mais asquerosas da humanidade, a da maldade, pura e cruel.

O espetacular Michael Fassbender faz o papel do fazendeiro e senhor de escravos Edwin Epps e é impressionante o que ele faz em cena!!! Fassbender mereceu todos os prêmios que ganhou por esse papel e merece muito mais! Seu personagem é interpretado com tamanha genialidade e loucura que a não consigo imaginar outro a levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Mas quem rouba a cena mesmo é a linda e ótima atriz Lupita Nyong'o que faz o papel de Patsey, uma jovem negra escravizada junto com Solomon.
Todas as cenas em que Lupita aparece são um show a parte e toda a delicadeza e sensibilidade da atriz ficam latentes até nas mais pesadas e brutais cenas.

Tecnicamente o filme é espetacular e isso fica visível na ótima montagem, o filme corre pelos 12 anos citados de forma fluida e leve, na fotografia magistral, na bela direção de arte e maquiagens e na linda trilha sonora.

Existem filmes bons, filmes ótimos, filmes espetaculares, filmes geniais, filmes históricos......e existe um tipo de filme (que além de ótimo) é NECESSÁRIO e "12 Anos de Escravidão" é um desses filmes.

Precisávamos de um filme como "12 Anos de Escravidão", para nunca esquecermos que a maldade humana não tem limites, e que infelizmente, muitas pessoas ainda são influenciadas a manter e disseminar pensamentos e atos racistas em pleno século 21.


Nota 10


Marcio Alexander Luciano