quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Pênalti e o Jogo da Minha Vida

     No videogame parece tão fácil...

O ano era 1996 e o Colégio Alberto Santos Dumont (um dos 2 Colégios de Cafelândia-PR) estava com suas equipes de Futebol, Basquete e Vôlei prontas para mais uma edição dos Jogos Escolares do Paraná -Fase Regional. Pelo 3° ano seguido eu estava fazendo parte do time de Futebol, representando a Cidade e o Colégio e éramos os atuais bicampeões da fase regional (algo inédito para a cidade e que causava certa ciumeira por parte das equipes de vôlei e basquete), porém, os torneios anteriores foram disputados com nascidos em 1978 e 1979 respectivamente e como eu sou de 1980 e participei, ora como titular, ora como reserva desses torneios, já tinha certa “experiência”, logo, maior responsabilidade.
Herdei a camisa 10 do craque do time dos anos anteriores, Cleber Morreto era o meia-esquerda clássico, dificilmente errava um passe e tinha uma bomba na perna direita, mas como tinha nascido em 79, não podia disputar os "Jogos". O Prof. Marcos, nosso técnico, me tirou da ponta esquerda e me incumbiu de ser o meia armador do time, pois tinha lá um pouco de habilidade na perna esquerda e meus passes e lançamentos eram bons, mas meu forte mesmo era a tal da bola parada.
Eu era o batedor de escanteios, faltas de pequenas e médias distâncias e de pênaltis (nos treinos de pênaltis meu aproveitamento era realmente muito bom).
Então fomos para Itaipulândia, sede dos “Jogos” de 1996, uma pequena e rica cidade do Oeste Paranaense banhada pela represa da usina de Itaipu. E foi nesses “Jogos” que aconteceu “O Jogo da Minha Vida”.
Passamos facilmente pela primeira fase e em 1° lugar do grupo, 4 jogos e 4 vitórias, melhor ataque e melhor defesa.
Mas sabíamos que o sorteio deu uma facilitada para nosso time, pois no outro grupo tinha nada menos que Iguatu e Capitão Leônidas Marques, dois times muito bons.
Os “Jogos” eram disputados no verão, em horários como 11hs, 14hs, 15hs, etc, e em uma cidade ao lado da maior represa do mundo (o campo era realmente ao lado!!!), logo, todos os jogos eram disputados em um calor infernal.
Nunca tive grande preparo físico, mas nesses jogos eu estava correndo muito, mas, disputar 5 jogos em 7 dias naquela situação era muito pesado.
Pegamos o time de Capitão Leônidas Marques na semifinal, e esse foi “O Jogo”.
A semifinal começou com um gol de Capitão Leônidas Marques com menos de 5 minutos e logo pensei: “Será que vão se vingar??!!”. Eliminamos esse mesmo time no ano anterior, também nas semifinais e com um gol de pênalti nos acréscimo, eles estavam mordidos.
Então começou o milagre de Vander “O Padeiro”. Vander era nosso goleiro e trabalhava como padeiro em uma panificadora em Cafelândia. Era um bom goleiro, mas nesse jogo ele se superou. Depois de sofrermos o gol, Vander salvou nosso time em pelo menos 5 lances. Era impressionante!!! Tinha descido o Taffarel nele e isso fez com que nosso time acordasse.
Conseguimos empatar o jogo num lance bizarro. Era final do 1° tempo e eu chutei uma bola do bico da grande área, nem foi tão forte e nem tão no canto,mas o goleiro deles espalmou pra fora. Eu já estava cansado e o escanteio era do outro lado, Günter, o meia direita do nosso time fez sinal pedindo para cobrar o escanteio, eu concordei (pensei: vou ficar na entrada da área, se sobrar, eu chuto), foi então que o lance bizarro aconteceu. Günter cobrou o escanteio com bastante efeito, o goleiro deles saiu todo estabanado, a bola bateu na nuca do zagueiro adversário, encobriu o goleiro, a bola bateu na trave, e entrou no gol.
 1 a 1 e final do 1° tempo.
Juro que não lembro direito do 2° tempo. Estávamos cansados e nenhum dos 2 times teve grandes chances de ganhar o jogo.
Então veio a prorrogação e mais 30 minutos. Nosso time estava mais cansado que o deles, (eu não conseguia mais correr, somente andar em campo), mas conseguimos levar o jogo para os pênaltis.
O juiz deu uns 10 minutos para descansarmos, mas não consegui relaxar, pois o Prof Marcos logo chegou perto de mim e disse: - Marcinho, você vai bater o 1° pênalti!!! Isso eu realmente  não esperava, pois na estreia dos “Jogos” tivemos um pênalti a nosso favor (estávamos ganhado o jogo por 5 a 0) e eu bati esse pênalti. Foi a pior cobrança da história!!! Chutei só grama e terra e a bola foi quicando para o meio do gol. Lembro de ver o goleiro rindo enquanto a bola ainda estava “quicando no gramado” antes dele encaixá-la. Minha sorte que aquele jogo já estava ganho, mas não consegui tirar aquela cobrança da cabeça. Era como se eu tivesse visto a mesma cena umas 500 vezes em menos de 10 minutos! Uma tortura sem fim!!!
Então os times se posicionaram no meio do campo e eu fui cobrar o pênalti, pois para ajudar, nosso time começaria as cobranças.
A caminhada do meio do campo até a marca do pênalti foi a coisa mais próxima de “eterna” que eu presenciei ou senti. Eu estava tremendo, mas também estava concentrado e sabia da responsabilidade daquela cobrança (lembrando: eu tinha 15 anos e aquilo foi a “minha Copa do Mundo”). Quando peguei a bola e coloquei na marca da cal eu já tinha decidido o que iria fazer: bateria o pênalti de chapa, forte, rasteira e no canto esquerdo do goleiro. Foi o que eu fiz, mas a bola não saiu tão forte como eu pretendia....
 
Se a caminhada até a marca do pênalti foi “eterna”, o tempo literalmente PAROU no exato momento que chutei a bola.

A bola foi rasante e tocou no chão somente uma vez antes de relar na mão do goleiro, bater na trave....e entrar.

O mundo tinha acabado de sair de cima das minhas costas.



Cumprimentei nosso goleiro, dei boa sorte e voltei rindo feito um bobo para o meio de campo.

A disputa por pênaltis foi para as cobranças alternadas. E vencemos. Estávamos classificados para a final.

E a final ?

Essa fica para outro dia....


Marcio Alexander Luciano

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